Manifestações Digitais

De início, eram uns poucos aos quais se ajuntaram centenas de outros, depois se formaram numa multidão de milhares e ganharam o apoio de milhões, até alcançar o mundo todo.

Por muitos anos, pesquisadores tentam entender por que as pessoas se agrupam para se manifestar em torno de uma causa. Com o surgimento das mídias sociais analisar esse fenômeno ficou ainda mais complexo.

Como se formam as multidões digitais

As multidões se formam facilmente nas mídias sociais porque elas são espaços abertos, amplos, de fácil acesso e que não podem ser controladas.

Protegido atrás da tela de um computador ou celular, o individuo encontra uma causa para defender ou manifestar sua opinião. Ele também identifica facilmente outros indivíduos com sentimentos semelhantes aos seus.

Muitos dos movimentos sociais no digital partem de sentimentos de indignação devido ao cinismo e arrogância de algumas pessoas, governos ou organizações.

Os indivíduos que formam as multidões podem estar buscando esperançosamente melhorar algo que na sua visão está errado ou é injusto.

Comportamento das multidões no meio digital:

  1. Heterogêneo. Em manifestações nas mídias sociais, nem todas as pessoas têm a mesma opinião. De longe pode parecer que existe uma multidão grande e homogênea, porém, mais de perto se observa que existem pessoas com motivações variadas.
  2. Liderança. Nas manifestações na Internet não existe apenas um líder. Contudo, acredita-se que um número pequeno de indivíduos (5%) tem a capacidade de influenciar a multidão.
  3. Emoção. Geralmente os conflitos no digital surgem a partir de emoções como a ira e indignação contra alguma injustiça e opressão. O big bang de um movimento social começa quando a emoção se transforma em ação.
  4. Contágio. No início costuma ser apenas uma pequena tensão, mas pode evoluir para manifestações ofensivas e violentas envolvendo várias pessoas.
  5. Inteligência. No passado acreditava-se se que as massas eram movidas apenas pelas emoções. O consenso atual é de que a razão e o senso de preservação também levam as pessoas a se agruparem em torno de uma causa.
  6. Identidade (empatia cognitiva). Geralmente os grupos possuem uma identidade que é um ou mais elementos em comum que atrai os indivíduos e os conecta.
  7. Perda de foco. Na fase de maior intensidade, o individuo que faz parte da massa de manifestantes pode perder a visão da situação real e estar mais suscetível a influências negativas e emoções irracionais.
  8. Visibilidade. O indivíduo costuma se sentir invencível e invisível no meio de uma multidão, mas nas mídias sociais é quase impossível ser anônimo.
  9. Visão exagerada. No digital, os argumentos de uma multidão costumam ser muito simples e exagerados, isso devido às limitações da quantidade de texto nas plataformas e do hábito de leitura apressada, nesses meios.
  10. Instabilidade. A impulsividade, a intolerância e a irritabilidade das pessoas nas manifestações digitais podem variar rapidamente, para melhor ou pior.
  11. A moralidade das pessoas tende a desaparecer durante os protestos digitais. Embora a causa da manifestação possa ser nobre, geralmente se faz uso de palavras ofensivas e violentas para atacar quem discorda da opinião.
  12. Ciclo de vida. Os agrupamentos digitais possuem início, meio e fim. Quanto mais rápido se formam, mas rápido tendem a se dissolver.

Dicas de como lidar com as manifestações digitais

  • Sensibilização e resposta para atacar a raiz da insatisfação e evitar o escalonamento da discussão.
  • A análise da situação e ações pontuais podem ser mais eficazes no lidar com a crise. Deixar a multidão sem atenção pode criar um efeito cascata e gerar efeitos mais negativos.
  • Desenvolver uma abordagem de comunicação que seja transparente, com regras de engajamento claramente definidas.
  • Perder a credibilidade pública é a maior vulnerabilidade que enfrentamos ao operar dentro do domínio das mídias sociais. Os adversários podem se comportar sem tais restrições, respeito e pudor, mas uma instituição ou pessoa educada será percebida positivamente pela sociedade.
  • Destacar apenas pontos positivos na informação e sempre apresentar respostas positivas enquanto bloqueia opiniões negativas, resultará na perda de credibilidade e negará todo o propósito de se engajar dentro do domínio das mídias sociais.
  • Deve haver um nível aceitável de informação negativa que seja permitido propagar. Tolerar temas negativos, pode ter efeitos muito positivos.
  • Reconhecer a raiz do problema e os objetivos dos influenciadores da multidão é essencial para uma resolução pacífica do problema.
  • As mídias sociais podem ser um mecanismo para ajudar a encontrar a solução de problemas. Para isso é necessário estar aberto a opiniões e diálogo.
  • A coerção e o contra-ataque não costumam ser as melhores estratégias de resposta nas mídias sociais. O uso desproporcional da força institucional irá produzir ainda mais resistência.
  • É importante criar um mapa dos seus influenciadores positivos e negativos.
  • Não fazer uso da estratégia militar de aniquilar o adversário. As mídias sociais são espaços para diálogos, mesmo entre quem pensa diferente.

Referências

Krumm, J.S. (2013). Influence of Social Media on Crowd Behavior and the Operational Environment.

Le Bon, Gustave. PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES – Le Bon (p. 68). Lebooks Editora. Edição do Kindle.

Crowds in the 21st Century (Contemporary Issues in Social Science) . Taylor and Francis. Edição do Kindle.

Sorj, Bernardo; Fausto, Sergio. Ativismo político em tempos de internet. Plataforma Democrática.2016

Castells, Manuel. Redes de indignação e esperança. Movimentos Sociais na era da Internet. Zahar. 2012.

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