Como a mídia afeta você e sua família

As mídias (TV, Internet, livros, jogos, músicas, etc.) podem causar algum efeito negativo em nossa mente? Assistir cenas violentas deixa a pessoa mais agressiva? Cenas sensuais levam a promiscuidade? Cenas de crime induz a pessoa a sair e cometer os mesmos crimes? O objetivo desse artigo é ajuda-lo a ter maior consciência da variedade dos efeitos da mídia. Esse conhecimento fará que você reconheça mais facilmente o que é negativo ou positivo, saiba como se defender e estar no controle da situação.

Anne, uma adolescente navega na Internet com o celular enquanto seus irmãos assistem um filme do Homem Aranha na sala de TV. Ela grita para que eles abaixem o volume e coloca os fones para ouvir músicas enquanto se concentra na leitura de uma revista digital. O anúncio de uma nova marca de shampoo a faz lembrar que precisa do produto e planeja compra-lo quando for ao mercado. Então, percebe que seus irmãos estão brigando e corre para separa-los. “Comportem-se ou não permitirei que assistam mais esses filmes”. Ela volta para o celular e vê a notícia de uma gangue que foi presa por tentar imitar o assalto de um filme. Ela pensa, “a mídia causa um efeito terrível nas crianças pequenas. Meus irmãos acabarão na cadeia assistindo esses filmes. Graças a Deus a mídia não tem nenhum efeito sobre mim.”

(Foto: Shutterstock)

A maioria de nós desconhece o efeito que as mídias produzem em nossa vida. Às vezes, percebemos que afetam aos outros, mas não conseguimos observar o efeito em nós mesmos. Os efeitos da mídia estão acontecendo a todo instante ao nosso redor. E não estão acontecendo apenas com outras pessoas; eles estão acontecendo com todas as pessoas, incluindo Anne e nós.

Efeito de tempo

Os efeitos da mídia podem ser imediatos ou de longo prazo. Os imediatos ocorrem logo em seguida a exposição ao conteúdo. Por exemplo, você assiste um filme que te deixa com medo ou raiva temporários. Os efeitos de longo prazo são menos perceptíveis e podem ser perigosos. Eles ocorrem após várias exposições e dificilmente dá para saber a causa original. Lembre-se que desde crianças somos expostos a publicidades para compra de produtos. Com o tempo podemos acreditar que comprando coisas seremos mais felizes.

Faça um teste e responda as seguintes perguntas: na sua opinião, qual é a melhor marca de sabão em pó, ou de tênis? Como você pode comprovar isso? Será que sua opinião não é o resultado da publicidade a que foi exposto ao longo da vida?

Valor da mídia

O efeito da mídia pode ser positivo ou negativo. Se uma publicidade oferece um produto e você compra porque ele vai resolver um problema, o efeito é positivo para você e o anunciante. Mas, se a publicidade o convence a comprar algo que não tem necessidade e você compra repetidamente, então o efeito é negativo. Se um filme te deixa mais feliz ou empático com o sofrimento alheio, ele pode ser positivo. O oposto é negativo.

Intencionalidade

Imagine que você deseja descansar no fim do dia assistindo um noticiário na TV.  Você decidiu conscientemente que vai assistir para relaxar. Nesse caso, você tem um objetivo e está no controle da mídia. Mas, imagine também que o noticiário mostrou muitas calamidades e isso deixou você depressivo ou nervoso resultando em algo diferente do relaxamento esperado. A lição aqui é que mesmo que você esteja aparentemente no controle da mídia, pode acontecer o inesperado e ela controlar você, seus sentimentos e emoções. Uma das saídas é processar ativamente as informações, raciocinar sobre o que está assistindo, ou simplesmente procurar outra atividade de relaxamento.

(Foto: Shutterstock)

Tipos de Efeitos

A maioria das preocupações sobre o consumo de mídias está relacionada aos efeitos sobre o comportamento do indivíduo. Assistir cenas violentas deixa a pessoa mais agressiva, cenas sensuais levam a promiscuidade, cenas de crime induz a pessoa a sair e cometer os mesmos crimes?  Essa resposta não é tão simples porque existem vários tipos de efeitos e, por isso, vamos examinar com mais detalhes.

  • Efeito cognitivo

Esse é o efeito mais poderoso e ao qual estamos mais sujeitos a maior parte do tempo. Todos os dias recebemos centenas de mensagens que tentam plantar ideias e informações em nossa mente. Os jornais, revistas, livros e outras mídias fazem isso através das celebridades, atores, cantores, escritores, jornalistas e influenciadores digitais. Eles são modelos sociais com os quais, nos identificamos, aprendemos e passamos a imitar.

Vários estudos mostram que muitos pais são influenciados pelas novelas e Internet na escolha do nome dos filhos[1]. Isso é prova de como essas mídias e os modelos sociais são capazes de influenciar nossas escolhas no estilo de vestuário, maquiagem, comportamentos, emoções e até palavras e expressões.

  •  Efeito da crença ou cosmovisão

Crença é a fé de que alguma coisa seja real ou verdadeira. A maioria de nós tem crenças sobre o sentido da vida, como tratar os outros, o que acontece depois da morte, a existência de Deus ou um ser supremo, etc.

A mídia continuamente força crenças em nossa mente através das notícias, estórias e histórias. Algumas dessas crenças são fáceis de detectar e podemos escolher se aceitamos ou rejeitamos. Porém, muitas crenças se desenvolvem com o tempo. Ideias e conceitos repetidamente exibidos podem acabar sendo aceitos como verdade. Também podemos imaginar que todo mundo pensa da mesma forma.  Por exemplo, imagine um jovem solteiro que lê muitos romances ou assiste muitos filmes e séries que exibem problemas de relacionamento no casamento. É possível que ele desenvolva uma crença muito negativa sobre relacionamentos de longo prazo.

Gradualmente e ao longo do tempo, a mídia pode moldar as nossas crenças sobre aspectos importantes da vida como, o que é atraente (altura, medida da cintura, cor dos olhos, pele, cabelo), o que significa ter sucesso (ganhar muito dinheiro, se formar em medicina, comprar um apartamento), como alcançar a felicidade (ter uma mansão, viajar nas férias para o exterior), etc.

  • Efeito da opinião

A opinião é um julgamento avaliativo que temos sobre as coisas. Comparamos algo com o nosso padrão e classificamos como positivo ou negativo, bom ou mau. Ao ouvirmos um político, um líder religioso ou uma nova música, criamos a nossa própria opinião. Pode ser que muitas dessas opiniões sejam o resultado dos efeitos da mídia. Por exemplo, depois de anos consumindo produções de Hollywood nossa opinião sobre o que é beleza se assemelha a aparência das atrizes e atores dos filmes.

É possível também que mídias abordem alguns temas de forma repetitiva com o objetivo principal de moldar ideias e opiniões da população. Isso é o que chamamos de teoria da agenda. Com o tempo as pessoas podem aceitar certos conceitos e comportamentos, sem se questionar. Estar sempre informado é um excelente antídoto para isso.  De qualquer forma, as pessoas são livres para escolher se aceitam ou não absorver essas agendas.

(Foto: Shutterstock)
  • Efeito emocional e psicológico

A mídia estimula nossas emoções. Uma música pode acalmar, um livro pode despertar a criatividade, um filme pode fazer chorar. Os efeitos emocionais podem ser temporários ou duradouros. Um filme de terror pode gerar um medo que logo passará.  No entanto, a frequente exposição pode gerar efeitos permanentes e de longo prazo. Depois de anos lendo ou assistindo programas ou filmes policiais de violência, uma pessoa pode perder a sensibilidade e empatia pelo sofrimento alheio, desejando vingança e morte cruel para qualquer inimigo.  É importante estar atento às emoções que a mídia nos provoca.

  • Efeito comportamental

A mídia pode incentivar comportamentos. Depois de assistir uma publicidade em algum site, podemos clicar e encomendar um produto. Os efeitos também podem ser de longo prazo e provocar vícios, quando a pessoa busca satisfação, prazer ou gratificação. Por exemplo, o uso frequente e exagerado de videogames ou redes sociais pode excluir o interesse por outras atividades, relacionamentos presenciais e causar dependência.  

  • Efeito comunitário

A mídia pode provocar mudanças numa população ou sociedade como um todo. Exemplo, nas últimas décadas as taxas de casamento e natalidade caíram e os divórcios aumentaram, em muitos países.  Os críticos consideram que a mídia tem uma grande responsabilidade nisso. Ao longo de anos, a exibição de filmes e novelas com famílias pequenas e casais em conflito ou vivendo de forma negativa, criou na mentalidade dos espectadores que famílias pequenas, divórcio e relacionamentos sem compromisso são indicadores da normalidade.

Por outro lado, as mídias também serviram para reunir a família e a comunidade. No passado, amigos e famílias se reuniam em torno do rádio ou TV para assistirem aos mesmos programas. Os pais reuniam os filhos para ler histórias nos livros. Mas, essa situação tem mudado. Com a digitalização dos meios de comunicação e a facilidade de acesso, várias pessoas podem estar consumindo conteúdos diferentes, em diferentes dispositivos, compartilhando o mesmo ambiente, mas sem trocar um único olhar.

Nem tudo é a mídia

Contudo, não podemos culpar a mídia por todos problemas do mundo. Existem outros fatores, como os econômicos, que também tem incentivado a redução das famílias e contribuído para os divórcios e outros problemas familiares. As pessoas estão trabalhando mais e se dedicando menos aos relacionamentos. Para alguns, a carreira tem ocupado lugar mais importante que a família. Isso tem feito que se casem mais tarde e tenham menos filhos. 

Conclusão

As mídias apresentam dualidade nos seus efeitos. Elas podem ser positivas ou negativas. Entender como elas nos afetam é o primeiro passo para evitar ser dominado. O segundo é aceitar que os efeitos negativos não acontecem apenas com os mais frágeis como as crianças e idosos, podem acontecer conosco também. E, por último, é importante compreender que cada ser humano é livre e pode escolher se aceita ou rejeita a influência da mídia.

(Foto: Shutterstock)

Dicas de como consumir mídia

Variedade. Evite consumir apenas um tipo de mídia e conteúdo. Use várias fontes de informação e notícias.

Intencionalidade. Antes de consumir uma mídia determine seu objetivo: entretenimento, aprender algo novo, etc.

Observe. Perceba o efeito que uma mídia ou conteúdo está provocando em você ou sua família e mude.

Não proíba, mas ensine. Explique aos mais novos os riscos, os benefícios e como se proteger da mídia. 

Alternativas. Crie alternativas para as crianças ocuparem seu tempo com outras atividades motoras, fora das telas.

Dê o exemplo. Não adianta colocar regras para os filhos se os pais mantem a atenção sempre voltada para a mídia.


Leituras adicionais

Alter, A. (2017). Irresistible: The rise of addictive technology and the business of keeping us hooked. New York, NY: Penguin Press.

Potter, W. James. Media Literacy (p. 283). SAGE Publications. Edição do Kindle.

Como combater o vício em tecnologia. Abstinência ou resiliência. https://www.semprefamilia.com.br/virtudes-e-valores/como-combater-o-vicio-em-tecnologia-abstinencia-ou-resiliencia/

Nomofobia: 10 sinais de que você está “viciado” em internet. https://blog.nossospsicologos.com.br/nomofobia-vicio-em-internet/


[1] A influência da mídia na escolha do nomes de filhos.

https://www.bonde.com.br/comportamento/familia/tv-e-internet-sao-maiores-influencias-na-escolha-do-nomes-dos-filhos-334963.html

https://www.debatenews.com.br/2001/06/17/televisao-influencia-na-escolha-de-nomes/

https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/saude-e-bem-estar/maternidade/confira-lista-com-os-nomes-de-bebes-mais-escolhidos-no-brasil-em-2015/

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