Em Busca de Sentido | Resenha

Será que as circunstâncias podem justificar as atitudes? Existe alguma razão para o sofrimento? Como vencer o vazio existencial? Essas são algumas perguntas que encontram respostas sugestivas na obra de Viktor Frankl, O Homem em Busca de um Sentido (Man’s search for meaning).

O autor

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O Homem em Busca de Sentido é um livro de 1946 escrito por Viktor Frankl, um neurologista e psiquiatra australiano que sobreviveu aos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. O livro de Frankl tornou-se um best-seller reconhecido em vários países do mundo e prestigiado por vários autores devido a sua contribuição na área da psicologia.

Propósito do livro

Frankl descreve vividamente no livro algumas das duras e dramáticas experiências pessoais vividas nos campos de concentração pelos quais passou, inclusive o famoso Auschwitz. No entanto, seu objetivo não é destacar de forma auto piedosa o sofrimento e a realidades cruéis a que foi submetido. A descrição das situações tem como objetivos exemplificar conceitos da psicanálise e analisar o comportamento humano quando submetido a circunstâncias adversas.  

Frankl também usa a descrição das suas experiências para fundamentar o conceito da Logoterapia. A premissa central desse conceito é a de que a principal força motivadora do ser humano é a busca pelo sentido da vida.

Postos-chave

A liberdade de escolha

Para Frankl o ser humano é forçosamente condicionado ao ambiente em que vive, mas não é escravo dele. As condições externas e adversas podem influenciar a natureza humana, mas não a obrigam a certas decisões e ações. O poder de escolha do indivíduo é o que vai determinar o rumo que traçará na vida.  

Observando a opressão e humilhação impostas aos prisioneiros nos campos de concentração, Frankl concluiu que mesmo que o individuo seja privado de tudo o que lhe é que é necessário para uma existência saudável, ele ainda possui a alternativa da liberdade para decidir a como reagir a essa realidade. Nada pode arrancar do prisioneiro a liberdade de escolher que sentido dará a sua vida. Mesmo em condições adversas ele pode revelar um comportamento positivo ou negativo e isso não está associado a situação enfim, mas ao seu caráter.

O sofrimento

Frankl aborda de maneira muito enfática a questão do sofrimento. A maneira como se lida com a dor e as situações indesejadas pode determinar o futuro da pessoa. O autor argumenta que se a vida tem sentido, o sofrimento também. É a pessoa que escolhe o sentido que quer dar tanto a vida quanto ao sofrimento. Nada mais o pode fazê-lo. Por exemplo, uma doença terminal pode ser entendida como uma oportunidade de inspiração e motivação para outras vidas, e não apenas como algo desesperador. Frankl viu muito dos seus amigos desistirem de viver devido a fome, doenças e sofrimentos, mas também viu outros, e ele mesmo, passando por idêntica circunstância, mas enxergando um motivo para existir.

O vácuo existencial

Ao observar a sociedade atual, Frankl lembra de ter visto comportamentos idênticos durante o Holocausto. As pessoas da sociedade moderna estão sentindo uma extrema falta de significado em suas vidas e sem um sentido que lhes diga que vale a pena viver.  Esse vazio dentro de si mesmos, Frankl denomina de “vácuo existencial”.

O vácuo existencial é algo muito individual e interno, mas pode se manifestar na busca desenfreada pelo poder e prazer. O individuo passa a buscar a compensação da sua frustração existencial no sexo, dinheiro e outras coisas que lhe tragam algum prazer ou sentido para vida, ainda que temporário.  

A Espiritualidade

Ao tentar encontrar respostas sobre o motivo do fracasso de alguns e a vitória de outros dos seus amigos, Frankl percebeu que a espiritualidade era um fator distintivo na escolha dos indivíduos.  A espiritualidade é que dava sentido a existência e permitia o individuo a fazer escolhas positivas. A crença no transcendente gerava motivação para vencer interiormente, a ter uma esperança futura e um sentido na vida presente.

Para Frankl a falta de sentido na vida tem levado muitas pessoas a adoecerem e a procurarem ajuda psiquiátrica para problemas que poderiam ser resolvidos com a ajuda de pastores e clérigos, mas eles se recusam a isso. O autor chama esse fenômeno de problemas metaclínicos. A resposta pelo sentido da vida e do sofrimento deve ser encontrada em outro mundo, além do humano.

Análise

Man’s search for meaning é um livro que revela nitidamente dois extremos da natureza humana. De um lado Frankl apresenta os horrores do holocausto com o objetivo de exemplificar como natureza humana pode decair a um nível de crueldade e insanidade inimagináveis. Por outro lado, o autor também apresenta que mesmo nessas circunstâncias, o ser humano pode revelar nobreza e moralidade não presentes em outros momentos da história. Tudo é uma questão de escolha.

O livro induz o pensamento de que existe no ser humano um poder de escolha que as circunstâncias da vida não podem remover. O ser humano não é completamente condicionado. Ele mesmo determina se cede aos condicionantes ou se resiste. Contudo, esse conceito de liberdade também está atrelado ao de responsabilidade. Sendo assim, ninguém pode responsabilizar as circunstâncias negativas da vida para justificar uma ação ou decisão negativa. O ser humano pode mudar para pior, mas essa mudança não é determinada pelo mundo externo e sim pelo que existe dentro dele. Um poder de escolha que o leva a definir o seu próprio futuro.

Um outro aspecto interessante é que, mesmo não sendo um livro de caráter religioso, a obra de Frankl sugere respostas para questões teológicas e espirituais como o livre arbítrio, o sentido da existência fora nós mesmos e a razão do sofrimento.  Chama a atenção a ênfase que Frankl dá ao sentido fora de nós mesmos e o vislumbre de uma recompensa futura. Quanto mais nos esquecemos de nós mesmos e nos dedicamos a servir uma causa ou amar outra pessoa, mas humanos nos tornamos e maior será a nossa realização pessoal. De forma semelhante, a consciência e esperança de recompensas futuras podem trazer sentido e resiliência para os sofrimentos do presente.

Quando o indivíduo aceita a existência do transcendente e busca nele uma explicação ou razão para o sentido da vida, então consegue aceitar mais facilmente a transitoriedade da vida, tira a atenção das suas próprias dificuldades, entende o sentido do presente e concentra suas esperanças no futuro.  

Conclusão

Aparentemente sãos idênticas as questões que Frankl enfrentou no campo de concentração e a que os homens modernos precisam lidar: “qual é o real motivo ou sentido da minha existência?” A ausência dessa resposta pode levar a morte o homem rico e da mesma forma o mendigo. Infelizmente, alguns tentam preencher esse vazio com ações egoístas e danosas. A resposta para o sentido da vida se encontra fora de nós mesmos. Porém, ainda ela transcenda ao nosso mundo interior, continua sendo uma escolha nossa apropriar-se dela. 

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