Como os algoritmos influenciam seu pensamento e comportamento

Nos últimos anos, as redes sociais e outras plataformas digitais conquistaram espaço importante em nossa rotina. Ficamos cada vez mais tempo no celular ou no computador, seja para trabalhar, conversar, aprender ou simplesmente nos distrair. Mas você já parou para pensar que, por trás do que aparece em sua tela, há um sistema que seleciona exatamente o que você vê? Esses “sistemas” são os algoritmos.

Neste artigo, vamos entender de forma simples o que são algoritmos, como eles funcionam e por que podem influenciar nossas opiniões e comportamentos. Vamos também refletir sobre como pais, mães, educadores e cristãos podem lidar de forma saudável com essas ferramentas, minimizando riscos e mantendo valores importantes.


O que é um algoritmo?

A palavra “algoritmo” assusta, mas o conceito é simples: um algoritmo é uma sequência de instruções para resolver um problema ou realizar uma tarefa no computador.

Na internet, os algoritmos analisam enormes quantidades de dados – nossos cliques, curtidas e tempo de uso – para prever o que nos interessa. Assim, eles decidem qual conteúdo você deve ver primeiro no seu feed do Instagram, Facebook, TikTok, YouTube ou qualquer outra plataforma. Os algoritmos aprendem com suas preferências e tentam te mostrar o que seja mais provável de prender sua atenção. Isso explica por que você e seu amigo, mesmo usando a mesma rede social, podem ver postagens diferentes.


Como os algoritmos influenciam o que pensamos

1. Bolhas de filtro

Como os algoritmos querem que fiquemos mais tempo conectados, eles costumam nos mostrar coisas com as quais já concordamos ou que chamam nossa atenção rapidamente. Isso gera as chamadas bolhas de filtro – ambientes virtuais onde só vemos um único tipo de ideia ou notícia, reforçando nossas opiniões e evitando que conheçamos pontos de vista diferentes.

  • Exemplo: se você curte postagens sobre um assunto específico, as redes vão te mostrar cada vez mais postagens parecidas, te “isolando” num mundo de opiniões iguais.

2. Economia da atenção

Por que as plataformas fazem isso? Porque o nosso tempo de uso gera dinheiro: quanto mais tempo ficamos ali, mais propagandas vemos e mais dados fornecemos. É o que chamamos de economia da atenção – a atenção do usuário é a grande moeda de troca na internet.

  • Exemplo: vídeos chamativos e sensacionalistas podem receber destaque porque prendem mais o público, não necessariamente por serem verdadeiros ou saudáveis.

Cada minuto que passamos online é monetizável. Nossa atenção virou moeda corrente da economia digital.

3. Desinformação e polarização

Algoritmos não têm “noção de certo ou errado”; eles “escolhem” o que aparece com base em popularidade e engajamento. Isso pode espalhar boatos, fake news ou teorias da conspiração muito rápido. Além disso, como cada pessoa vê apenas o que reforça suas crenças, a convivência entre opiniões diferentes vai se tornando cada vez mais difícil – surgem tensões, brigas e até ódio nas redes.

  • Exemplo: grandes discussões em redes sociais, onde cada lado só ouve conteúdos que confirmam suas próprias visões, gerando ambientes de ataque ou cancelamento.

Capitalismo de Vigilância: quando a sua atenção vira produto

Um dos motivos pelos quais os algoritmos se tornaram tão poderosos e influentes está ligado ao modelo de negócio adotado por muitas empresas de tecnologia – algo que estudiosos, como a professora Shoshana Zuboff (Harvard), chamam de “capitalismo de vigilância”. Mas o que esse termo significa?

1. O que é “capitalismo de vigilância”?

É um sistema econômico no qual as empresas ganham dinheiro coletando, analisando e vendendo nossos dados de navegação, preferências e comportamento. Em vez de pagarmos para usar redes sociais ou outros serviços online, pagamos com nosso tempoatenção e informações pessoais. Os dados que fornecemos (intencionalmente ou não) são utilizados para criar “perfis” que indicam nossos gostos, hábitos de consumo, opiniões políticas e muito mais.

Não somos os clientes. Somos a matéria-prima ou o produto.

2. Por que isso preocupa?

  • Perda de privacidade: Muitas vezes, não percebemos até que ponto estamos sendo monitorados. Cada clique, curtida ou busca que fazemos é registrado e analisado. Isso significa que, a qualquer momento, as plataformas conseguem “prever” nossos interesses e se tornar ainda mais eficazes em prender nosso olhar na tela.
  • Manipulação do comportamento: O objetivo principal é manter as pessoas conectadas o maior tempo possível, para gerar mais lucro através da venda de anúncios publicitários. É por isso que tudo é cuidadosamente planejado para ser altamente viciante, desde as notificações até a forma como o conteúdo é apresentado.
  • Concentração de poder: Quando poucas empresas (as chamadas “Big Techs”) acumulam grandes quantidades de dados, elas acabam tendo forte influência na formação de opiniões e decisões – inclusive políticas, sociais e de consumo.
  • Exposição de crianças e adolescentes: Jovens podem se tornar “reféns” de plataformas digitais que usam recursos de design e algoritmos para garantir engajamento constante. A busca por likes, a preocupação exagerada com a própria imagem e a influência de anúncios direcionados podem deformar valores e autoestima.
  • Ilusão da gratuidade: Muitos consideram normal que redes sociais sejam “de graça”. Na verdade, o produto é o próprio usuário, pois são seus dados e sua atenção que geram o lucro da empresa. Essa realidade nos desafia a ensinar às novas gerações a desconfiar de “ofertas grátis” na internet e avaliar criticamente o custo real desse uso.

O objetivo dos algorítimos de vigilância não é apenas prever o comportamento, mas moldá-lo.


Racismo e preconceito digital: quando a tecnologia reproduz (ou amplia) injustiças

A tecnologia deveria ser neutra, mas não é bem assim que as coisas acontecem na prática. Os algoritmos responsáveis por decidir o que aparece no nosso feed ou por reconhecer nossas fotos não são criados do zero; eles se apoiam em grandes quantidades de dados que refletem comportamentos, culturas e preconceitos já existentes na sociedade. Como resultado, situações de racismo e discriminação podem acontecer mesmo sem a intenção clara de uma pessoa por trás.

1. O que é “racismo algorítmico” e preconceito digital?

Chamamos de racismo algorítmico (ou preconceito digital) o fato de sistemas computacionais tomarem decisões que discriminam certos grupos étnicos, raciais, religiosos ou sociais. Isso pode ocorrer por diversos motivos:

  • Dados de treinamento limitados ou enviesados: Se a maior parte dos exemplos usados para “treinar” um software vem de pessoas brancas, os resultados podem ser muito menos precisos para pessoas negras ou de outras etnias.
  • Códigos e parâmetros criados sem diversidade: Quando uma equipe de programadores não representa a pluralidade de usuários, é mais provável que acabe desenvolvendo ferramentas que reforçam estereótipos, ainda que de forma involuntária.

2. Exemplos concretos

  • Reconhecimento facial: Alguns aplicativos são muito bons para identificar rostos brancos, porém falham frequentemente com rostos negros ou indígenas, gerando erros constrangedores ou até perigosos (acusando pessoas inocentes em investigações, por exemplo).
  • Filtros e moderação de conteúdo: Conteúdos com expressões ou gírias de grupos minoritários podem ser excluídos indevidamente por algoritmos de moderação, que “interpretam” aquelas palavras como agressivas ou proibidas.
  • Anúncios direcionados: Há casos de plataformas exibindo ofertas de empregos para um perfil de cor, gênero ou idade, deixando outras pessoas de fora e perpetuando desigualdades.

Como se proteger ou minimizar os riscos

1. Entenda o básico sobre algoritmos

Você não precisa ser especialista em tecnologia, mas conhecer o que são e como funcionam os algoritmos já ajuda. Saber que há um sistema escolhendo o que você vê é meio caminho andado para não cair em armadilhas e manipulações.

2. Selecione conscientemente o que consome

Busque informações de múltiplas fontes. Não confie apenas no que “aparece” no seu feed. Procure sites confiáveis, veículos de imprensa reconhecidos ou especialistas na área. Se você leu algo polêmico, cheque se há outra versão da história. Dessa forma, você evita as “bolhas de filtro”.

3. Crie limites de uso para toda a família

Estabeleça horários sem telas (por exemplo, durante as refeições ou meia hora antes de dormir) e combine regras em casa:

  • Nada de celular na hora dos estudos.
  • Nos finais de semana, tente separar um período para curtir família e amigos sem tecnologia por perto (descanso digital).

tradição cristã de guardar um dia para repouso e comunhão (como o sábado, no caso adventista) também pode ser inspiradora nessa questão de “desconectar”.

4. Desligue notificações irrelevantes

Essas notificações constantes no celular são projetadas para “pescar” sua atenção. Analise quais são realmente importantes e desative as demais. Você terá mais paz e controle sobre o que faz no dia a dia.

5. Converse abertamente sobre o assunto

Fale com seus filhos, alunos ou jovens da igreja sobre bolhas de filtro, racismo e desinformação. Explique que nem tudo o que está na internet é real e que é importante pesquisar. Essa clareza ajuda a evitar manipulações e a entender que as redes sociais têm um “lado oculto” que não é divulgado nos comerciais.

6. Invista na educação emocional e espiritual

Boa parte dos problemas digitais (como a obsessão por likes, a ansiedade por comparação, a baixa autoestima) nasce da falta de autoestima e valores bem firmados. Desenvolver uma espiritualidade sólida e refletir sobre quem somos aos olhos de Deus ajuda a não buscar validação em curtidas. Ensinar às crianças e adolescentes que elas têm valor independente das redes sociais é fundamental.


Conclusão

Vivemos em um mundo onde as telas são parte do dia a dia e, em muitos aspectos, nos ajudam a trabalhar, estudar e até praticar nossa fé (assistindo pregações online, mantendo contato com amigos distantes, etc.). No entanto, é importante lembrar que há algoritmos por detrás dessas plataformas, e eles tentam prender nossa atenção para lucrar com isso.

Como cristãos, pais e educadores, precisamos encontrar um equilíbrio: desfrutar das boas oportunidades que a tecnologia nos oferece, sem perder de vista os valores que nos mantêm saudáveis e responsáveis – liberdade, verdade e amor ao próximo.

Referências:

ZUBOFF, Shoshana. A Era do Capitalismo de Vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020. (Conceito de vigilância comportamental e mercantilização de dados)

PARISER, Eli. O Filtro Invisível: O que a Internet está escondendo de você. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. (Bolhas de filtro e personalização)

SALLÉS et al. “Algoritmo do YouTube e radicalização política” – Social Media + Society, 2023. (Estudo de caso brasileiro sobre recomendações de vídeo extremista)​brasildefato.com.brbrasildefato.com.br

Pesquisa Pompeu Fabra/UOC, 2025 – cobertura em O Globo Saúde (Impacto de Instagram/TikTok na saúde mental de adolescentes, diferenças de gênero)​oglobo.globo.com

LAUSANNE Movement: “Fé Cristã e Tecnologia” (2022). (Reflexão teológica sobre tecnologia e cultura, enfatizando discernimento e engajamento)​lausanne.orglausanne.org

SILVA, Tarcízio. Linha do Tempo do Racismo Algorítmico. (Compilação online de casos de vieses em algoritmos)

Estatísticas de uso de redes sociais (DataReportal 2024) – mLabs compêndio​ mlabs.com.br​.


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