Introdução

Em nossa sociedade moderna os celulares e os computadores oferecem acesso fácil e contínuo à informação e a comunicação. Essa facilidade influencia a forma como os pais educam seus filhos e como pais e filhos se conectam uns com os outros.

Os pais de agora são desafiados a transcender, ou seja, aprender, experimentar ambientes e consumir conteúdos digitais que os filhos terão acesso, a fim de saber como orienta-los. 

Para cada idade, uma estratégia

A crescente utilização dos smartphones, acompanhada do acesso constante à Internet, tem implicações distintas para cada etapa do desenvolvimento dos filhos.

1.      Pré-escolares

Os pais são os principais responsáveis quando se trata de colocar dispositivos eletrônicos e serviços de mídia nas mãos das crianças. São eles que  devem definir as regras para o uso e o mau uso, ajudar as crianças a navegar nos ambientes e a entender os conteúdos. Eles também definem como as atividades off-line e online serão intercaladas.

As crianças em idade pré-escolar devem ter controle mínimo sobre os dispositivos eletrônicos e sobre o conteúdo que podem acessar. Portanto, os pais desempenham um papel especialmente importante.

A responsabilidade dos pais inclui a compra e instalação de aplicativos, jogos e vídeos adequados, para evitar que a criança se depare com conteúdos nocivos.

A inovação incessante em aplicativos, jogos e conteúdos para crianças também impõe aos pais a tarefa de se manterem atualizados com as novidades e serem capazes de avaliar os possíveis benefícios e danos.

Os pais também podem optar por envolver a criança no processo de escolha e participarem com os filhos em jogos, desenhos e filmes, se divertindo, mas também orientando.

Em resumo, pais de crianças na idade pré-escolar são responsáveis por criar a dieta de uso e consumo de mídia dos filhos.

2.      Idade escolar

À medida que as crianças avançam para a idade do ensino fundamental, elas gostarão de ter algum grau de independência dos pais, enquanto estão na escola ou interagindo com amigos.

Nas escolas, algumas crianças possuem celulares e provavelmente os usam nesse ambiente.  Com isso, pode ocorrer o uso compartilhado de mídia entre elas, por exemplo, assistindo vídeos ou jogando juntas.

Embora essas interações provavelmente sejam inofensivas, a exposição a conteúdo impróprio para a idade, como pornografia ou certos tipos de jogos, pode ocorrer por meio desse uso compartilhado de mídia.  Afinal, os valores e padrões morais das famílias são diferentes e nem todos os pais obedecem as regras de faixa etária – o que é aceitável em uma casa pode ser um maldição para outra.

Os pais mais atentos perceberão, que, não se pode criar os filhos numa bolha. A única maneira de protegê-los contra a exposição acidental à conteúdos inadequados é incutir neles valores e habilidades de discernimento.

Além dessas questões, os celulares também trouxeram novas obrigações para os pais. Muitas escolas têm agora uma conexão direta com os pais por esse meio enviando avisos de tarefas, eventos e etc.

Embora esses canais de comunicação sejam, em muitos aspectos, uma bênção, permitindo que os pais se mantenham a par das oportunidades que podem melhorar o desenvolvimento acadêmico e social da criança, eles acrescentam mais uma responsabilidade à longa lista de tarefas parentais que devem ser cumpridas.

3.      Pré-adolescencia

Com crianças mais velhas, de 12 a 16 anos, que provavelmente têm seus próprios dispositivos, a situação se torna mais complexa.

Em comparação com crianças mais novas, esse grupo desfruta de considerável autonomia. Quando saem de casa para ir à escola ou a reuniões sociais, é provável que levem seu próprio telefone celular, bem como um tablet, um dispositivo portátil de jogos ou um laptop. Eles também têm suas próprias contas de mídia social, que usam para se conectar com amigos e familiares.

Por serem mais velhos, eles têm uma gama maior de habilidades on-line e, portanto, podem navegar na Internet sem ajuda e fazer download de aplicativos ou jogos, bem como fazer upload de conteúdo de sua própria criação.

Os pais que desejam acompanhar e moderar as experiências sociais on-line de seus filhos precisam explorar por conta própria as plataformas digitais e tentar entender esses ambientes, como os filhos interagem e que tipos de pessoas encontram por lá.

 A socialização face a face com colegas é cada vez mais complementada por interações mediadas por meio de plataformas de mídia social, como WhatsApp, Instagram, Tiktok, Facebook e plataformas de jogos como Roblox, Freefire, Fortnite etc.

Essas interações mediadas com colegas podem ser convenientes, agradáveis e divertidas. No entanto, embora as crianças tenham a competência tecnológica para se comunicar por meio desses serviços, elas não têm a maturidade emocional necessária para se comunicar com os colegas.

Por exemplo, uma discussão que se agrava em um bate-papo em grupo pode romper amizades e criar tensões indesejáveis, possivelmente gerando brigas online e cyberbullying.

Nessa faixa etária também é possível que aconteçam interações com outras crianças desconhecidas. Algumas delas podem ter visões de mundo e moralidade nitidamente diferentes. Por isso, as crianças precisam ser orientadas e preparadas para essas situações.

Para preparar seus filhos para essas situações, os pais precisam refletir sobre os valores que desejam incutir em seus filhos e, ao mesmo tempo, conduzi-los por diferentes cenários nos quais o julgamento da criança pode ser testado.

Fornecer essa orientação exigirá tempo e esforço de autodidatismo por parte dos pais, a fim de se familiarizarem com o complexo ambiente on-line e com a crescente variedade de plataformas.

Alguns pais também podem tentar impor regras e restrições, como proibir a exploração de determinados sites ou exigir que as senhas sejam compartilhadas.

Por fim, algumas crianças podem se sentir empolgadas em produzir conteúdo, mas costumam não se preocupar muito com questões de proteção à privacidade, gerenciamento de reputação e propriedade intelectual. Novamente, se espera que os pais intervenham para evitar que seus filhos se coloquem em posições vulneráveis e arriscadas.

4.      Adolescentes

No final da adolescência, é natural que os pais afrouxem o controle e atribuam confiança e responsabilidade aos filhos. Nessa idade, seria menos uma questão de incutir novos valores e mais de reforçar aqueles já existentes e ensinados nos primeiros anos.

À medida que os filhos amadurecem, é provável que o relacionamento com os pais também passe de uma natureza de superioridade e subordinação para uma dinâmica mais parecida com a de um amigo ou colega. No entanto, isso não isenta os pais da necessidade de oferecer orientação e suporte para o uso da mídia e dispositivos.

Como os gostos e as preferências pessoais dos filhos em relação ao conteúdo de mídia já estão bastante desenvolvidos, os pais talvez só precisem intervir ocasionalmente em casos de conteúdos controversos ou situações difíceis. É mais provável que os pais tenham que lidar com questões de gerenciamento do uso excessivo e garantir que o apego aos dispositivos não comprometa seu bem-estar geral e o relacionamento com outras pessoas importantes.

Com a entrada na idade adulta chegando, alguns jovens desfrutarão de um grau de independência sem precedentes. Aqueles que estão indo para o ensino superior sairão de casa pela primeira vez para viver por conta própria e serão responsáveis por seus deveres, necessidades e rotinas diárias.

Ainda que estejam separados por uma grande distância, os pais devem continuar verificando a segurança e o paradeiro dos filhos, seja entrando em contato diretamente com eles, seja vendo suas atualizações nas mídias sociais e, em alguns casos, até mesmo entrando em contato com os amigos dos filhos.

Conclusão

  • Use as mídias e dispositivos eletrônicos com sabedoria e moderação. Dê um bom exemplo ao seu filho.
  • Mantenha-se atualizado. Aprenda e entenda o que seu filho faz no mundo online e, quando possível, participe com ele. Embora as crianças estejam na vanguarda do consumo de mídia, os pais não estão e não podem se dar ao luxo de ficar muito atrás.
  • Infelizmente, o crescimento dos meios de comunicação e do consumo de mídia exige que os pais se superem nas tarefas tradicionais de educação dos filhos e compreendam o mundo digital. 
  • A paternidade na era digital envolve um grau significativo de trabalho emocional, em que os pais precisam nutrir com sensibilidade o relacionamento com os filhos e encontrar um equilíbrio entre envolvimento e interferência.

FONTES

Through the tablet glass: transcendent parenting in an era of mobile media and cloud computing. Sun Sun Lim

Children, Adolescents, and Media (Crianças, adolescentes e mídia). Taylor e Francis.


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