Em uma época em que a tecnologia atinge quase todos os aspectos de nossas vidas, não é de surpreender que a inteligência artificial (IA) tenha entrado na esfera do romance e dos relacionamentos.
Atualmente as namorada(o)s ou companheiros de IA tem provocado um debate animado nas mídias sociais e fora delas.
Embora a relação com essas namoradas digitais ofereça benefícios intrigantes, como aliviar a solidão e fornecer apoio constante, ela também traz uma onda de preocupações sobre o impacto nos relacionamentos do mundo real e nossa compreensão do que significa o companheirismo.
Nada novo
Os companheiros românticos digitais, não são um conceito novo. Os videogames de simulação de romance existem desde 1992. No entanto, as companhias virtuais se tornaram mais sofisticadas – tanto que as pessoas descrevem que se apaixonam por chatbots[1].
Por exemplo, o Character.AI (plataforma de IA) permite que os usuários criem seus próprios companheiros e dialoguem com eles. Muitos desses foram criados com o objetivo expresso de desempenhar papéis de namorada(o).
Benefícios
As namoradas ou namorados de IA, são cada vez mais populares por sua capacidade de oferecer companhia e conversação.
Um dos principais benefícios é seu papel no combate à solidão. Para muitos, esses seres digitais oferecem um ouvido atento e um senso de presença, o que pode ser particularmente reconfortante em momentos de isolamento.
Além disso, os companheiros de IA podem ser acessados 24 horas por dia, proporcionando uma fonte consistente de interação que nem sempre é possível nos relacionamentos humanos.

Riscos
No entanto, esse conforto vem com seu próprio conjunto de riscos. A principal preocupação é a fuga da realidade, ou seja, a perda da percepção dos limites entre a realidade e a simulação.
O envolvimento regular com um companheiro de IA pode levar algumas pessoas (principalmente as novas gerações) a desenvolver expectativas irreais em relação aos relacionamentos humanos ou preferir a simplicidade das interações de IA em vez das complexidades das emoções humanas. Isso poderia prejudicar suas habilidades sociais e sua capacidade de formar conexões significativas com outras pessoas.
Recentemente, alguns usuários relataram que companheiros digitais em IA poderiam apresentar comportamento agressivo e abusivo[2].
Além disso, há o risco de dependência psicológica, em que os usuários podem se tornar excessivamente dependentes de seus companheiros de IA distanciando-se ainda mais da realidade e das interações na vida real.
Sugestões
É fundamental considerar diretrizes para o uso responsável da IA nos relacionamentos.
- Transparência: Os usuários devem ser claramente informados de que seus companheiros de IA não são pessoas reais e não podem emular totalmente as emoções ou os relacionamentos humanos.
- Responsabilidade: Os desenvolvedores de IA podem considerar a possibilidade de programar esses companheiros digitais para incentivar os usuários a buscar e manter conexões humanas.
- Diálogo: É preciso haver uma conversa contínua sobre o desenvolvimento ético e o uso dessa tecnologia, possivelmente envolvendo o governo, especialistas em saúde mental e educadores.
Olhando para o futuro
Liberty Vittert, professora de ciência de dados, alertou que IAs capazes de satisfazer os humanos emocional e sexualmente se tornarão uma realidade em menos de 10 anos. Isso, de acordo com Vittert, pode resultar em um aumento no número de divórcios. Os homens casados e com filhos começarão a deixar suas famílias para abraçar seus ‘relacionamentos ideais’ com namoradas de IA. “A namorada de IA nunca está cansada, mal-humorada ou tem um dia ruim, ela apenas dá aos usuários o que eles precisam ouvir incondicionalmente”, disse ela. [3]
Não é possível saber quando ou se um dia atingiremos esses níveis mais elevados de IA, mas é importante desde já manter o equilíbrio e a atenção aos riscos já existentes.

Conclusão
À medida que a IA continua a evoluir e a se integrar em nossa vida diária, a conversa sobre seu papel nos relacionamentos pessoais é mais importante do que nunca. É fundamental equilibrar os benefícios e avaliar os riscos. Ao promover a conscientização e definir diretrizes, podemos garantir que a IA sirva como complemento, e não como substituto, da complexidade e beleza dos relacionamentos humanos.
[1] https://amp.theguardian.com/commentisfree/2024/jan/13/ai-girlfriend-chatbots
https://time.com/6257790/ai-chatbots-love/
[2] https://www.vice.com/en/article/z34d5y/cyber-replika-the-ai-chatbot-users-say-is-sexually-harassing-them
[3] https://www.thesun.co.uk/tech/24943873/ai-girlfriends-men-single-people-lonely/




Deixe um comentário