Nos últimos anos, a saúde mental das novas gerações têm sido motivo de grande preocupação.
Várias pesquisas já foram conduzidas em âmbito mundial, mas raramente se vê um estudo específico para os meninos.
O que se sabe é que a ansiedade e a depressão afetam os garotos de formas diferentes. A pressão social, expectativas acadêmicas e o bullying são algumas das principais causas de ansiedade entre meninos. A exposição contínua às redes sociais e o consumo de pornografia também contribuem para aumentar esses níveis de ansiedade e depressão.
Os sintomas podem incluir irritabilidade, comportamento agressivo ou de risco, mudanças de humor, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, dificuldades de concentração e alterações no sono e apetite. Em casos graves, isso pode levar ao isolamento social e a pensamentos suicidas.
Esse artigo procura responder algumas perguntas sobre o estado mental dos meninos e sua relação com as mídias digitais. Ele é baseado em respostas encontradas em várias pesquisas, mas principalmente na revisão colaborativa, conduzida por Jonathan Haidt, Richard Reeves e Zach Rausch [1]
1. O que está acontecendo com a saúde mental dos meninos?
Entre os meninos está ocorrendo um aumento significativo nos distúrbios internos, como: depressão, ansiedade e automutilação. Essa tendência tem sido associada, entre outros fatores, à transferência da vida social para plataformas digitais e ao uso excessivo das telas.
Fonte: Keyes, Gary, O’Malley, Hamilton, & Schulenberg (2019). Recent increases in depressive symptoms among US adolescents: Trends from 1991 to 2018. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology.
2. Como a depressão entre os meninos está relacionada com a migração da vida social para plataformas digitais?
A migração da vida social para o digital é um fenômeno que começou a se intensificar a partir dos anos 2000, com a popularização da Internet. A partir de então, as interações sociais entre os mais jovens passaram a ser mediadas pela tecnologia, impactando a forma como eles se comunicam, se relacionam e consomem informações.
Atualmente, essa migração massiva da vida social para plataformas digitais tem alterado atividades fundamentais para o desenvolvimento saudável, como o sono, o tempo ao ar livre e as brincadeiras físicas. Esse fenômeno é também conhecido como “hipótese de deslocamento”.
A hipótese de deslocamento é um outro termo que sugere que o tempo gasto em atividades digitais, como o uso de redes sociais, videogames e outras formas de entretenimento online, desloca ou substitui o tempo que seria gasto em atividades tradicionais e potencialmente mais saudáveis. Essas atividades tradicionais incluem o sono, exercícios físicos, tempo ao ar livre, leitura, e interações sociais cara a cara.
Em resumo, a falta de interação física, atividades físicas e comunitárias em consequência do comportamento de migração ou deslocamento para o digital, são fatores que podem estar contribuindo para o aumento dos problemas de saúde mental entre os meninos.
3. O uso de mídias sociais é capaz de afetar a saúde mental dos meninos?
Diversos estudos indicam que o uso intensivo ou extremo de mídias sociais está correlacionado com piora na saúde mental dos jovens. A exposição constante a conteúdos negativos e a comparação social podem aumentar sentimentos de inadequação e ansiedade. Isso ocorre de forma mais intensa nas meninas, mas também afeta os meninos, ainda que em menor proporção. A redução do tempo de sono devido ao uso noturno de dispositivos também é um fator crítico[2].
4. O uso de pornografia está impactando a saúde dos meninos?
Sim, o uso de pornografia entre adolescentes tem sido associado a diversos impactos negativos na saúde, incluindo distorções nas expectativas sexuais, aumento da ansiedade e problemas de relacionamento.
O impacto da pornografia nos jovens é significativo e multifacetado. Estudos indicam que um número substancial de meninos e jovens são expostos à pornografia em uma idade muito jovem. Em média, as crianças entram em contato com a pornografia por volta dos treze anos, mas muitos relatam vê-la ainda mais cedo — por volta dos onze anos ou até menos[3].
Os tipos de pornografia consumidos tornaram-se cada vez mais extremos, com uma grande proporção retratando atos violentos, coercitivos e degradantes. Esse tipo de conteúdo pode distorcer severamente as percepções dos jovens sobre sexo e relacionamentos, levando-os a acreditar que o que veem na pornografia é comportamento normal ou aceitável. Essa normalização da violência e agressão em contextos sexuais é particularmente preocupante porque pode se traduzir em comportamentos e expectativas na vida real, dificultando o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis[4].
Além disso, o consumo frequente de pornografia está associado a uma série de resultados negativos, incluindo dependência, aumento da ansiedade, depressão e isolamento social. Também pode impactar o desempenho acadêmico e reduzir a motivação para interações sociais e românticas, na vida real.
5. O uso de aplicativos de namoro pode afetar a saúde mental dos meninos?
O uso de aplicativos de namoro tem sido ligado a aumentos em ansiedade e depressão, especialmente devido à natureza superficial e imediatista das interações online. A rejeição frequente e a busca incessante por validação podem impactar negativamente a autoestima dos meninos[5].
6. Como o uso de videogames está relacionado à saúde dos meninos?
Enquanto alguns estudos sugerem que os videogames podem ter efeitos positivos, como melhoria de habilidades cognitivas, o uso excessivo está associado a problemas como isolamento social, diminuição do desempenho acadêmico e aumento de comportamentos agressivos. O equilíbrio é essencial para evitar impactos negativos[6].
7. Quais são as consequências do uso de sites de apostas e jogos de azar online para os meninos?
O uso de plataformas digitais de jogos de azar está associado a riscos significativos, incluindo vício, problemas financeiros e aumento da ansiedade. A acessibilidade e a natureza viciante desses jogos podem levar a comportamentos problemáticos e afetar a saúde mental e emocional dos jovens.
8. As comunidades online influenciam a saúde dos meninos?
Comunidades online podem ter efeitos tanto positivos quanto negativos. Enquanto algumas oferecem apoio e um senso de pertencimento, outras podem promover comportamentos tóxicos e pressionar os jovens a adotar atitudes prejudiciais. O impacto depende do tipo de comunidade e da interação dos jovens com ela.
9. Fatores químicos e biológicos podem estar interferindo no desenvolvimento dos meninos?
Algumas pesquisas exploram essa possibilidade. Fatores biológicos, como exposição a produtos químicos (ex.: xenoestrogênios), uso de certos medicamentos e dieta inadequada, podem interferir no desenvolvimento dos meninos. Alterações hormonais e problemas de saúde física, como obesidade, também desempenham um papel importante[7].
10.Fatores sociológicos podem estar interferindo no desenvolvimento dos meninos?
Mudanças na estrutura familiar, métodos educacionais, atividades físicas e normas sociais sobre masculinidade podem estar afetando o desenvolvimento dos meninos e são exemplos de como fatores sociológicos podem impactar negativamente os meninos[8].
Conclusão
Esse artigo resumiu algumas pesquisas sobre meninos relacionadas à saúde mental, mídia digital e outros fatores.
Diagnosticar o problema talvez seja mais fácil que oferecer soluções. Por isso, é essencial que pais, educadores e formuladores de políticas públicas unam esforços para criar as ferramentas de apoio necessárias para ajudar os meninos a se tornarem homens mais felizes, saudáveis e bem-sucedidos.
Em Filipenses 4:13, lemos: “Tudo posso naquele que me fortalece.” Integrar princípios cristãos na vida dos meninos e ensiná-los os a buscar a força divina, pode ajudá-los a desenvolver uma fé forte e uma perspectiva positiva, essencial para superar os desafios da vida.
5 Dicas para Ajudar os Meninos a Lidar com os Desafios da Vida
- Atividades no mundo físico: Ajude os meninos a encontrem atividades prazerosas no mundo físico. Ajude-os a passarem menos tempo conectados à algum meio tecnológico.
- Promover o Diálogo Aberto: Crie um ambiente onde eles se sintam à vontade para expressar suas preocupações e sentimentos. Ouvir e conversar sobre seus desafios pode reduzir a sensação de isolamento.
- Ensinar a Gerenciar o Estresse: Introduza técnicas de gerenciamento de estresse, como exercícios de respiração, atividades físicas e hobbies não tecnológicos. Isso pode ajudá-los a manter a calma em momentos difíceis.
- Fortalecer a Rede de Apoio: Incentive a construção de amizades saudáveis e o envolvimento em comunidades positivas, como grupos de jovens em igrejas. Um sistema de apoio forte pode oferecer encorajamento e suporte.
- Desenvolver Habilidades de Solução de Problemas: Ensine-os a abordar os problemas de forma estruturada: identificar o problema, gerar soluções possíveis e implementar a melhor solução. Isso pode aumentar sua capacidade de lidar com desafios de maneira eficaz.
Referências
Data and Statistics on Children’s Mental Health. https://www.cdc.gov/childrensmentalhealth/data.html
Anxiety and depression in children: Get the facts. https://www.cdc.gov/childrensmentalhealth/features/anxiety-depression-children.html
Facts and figures about young people and mental health. https://www.mind.org.uk/about-us/our-strategy/doing-more-for-young-people/facts-and-figures-about-young-people-and-mental-health/
Most U.S. Teens See Anxiety and Depression as a Major Problem Among Their Peers. https://www.pewresearch.org/social-trends/2019/02/20/most-u-s-teens-see-anxiety-and-depression-as-a-major-problem-among-their-peers/
The Boy Crisis: Why Our Boys Are Struggling and What We Can Do About It. https://www.amazon.com/Boy-Crisis-Boys-Struggling-About/dp/1948836130
[1] Haidt, J., Reeves, R., & Rausch, Z. (ongoing). What is happening to boys? A collaborative review. Unpublished manuscript, New York University.
[2] Haidt, Jonathan. The Anxious Generation: How the Great Rewiring of Childhood Is Causing an Epidemic of Mental Illness (p. 48). Penguin Publishing Group. Edição do Kindle
[3] https://www.childrenscommissioner.gov.uk/resource/a-lot-of-it-is-actually-just-abuse-young-people-and-pornography/
[4] https://www.childrenscommissioner.gov.uk/resource/pornography-and-harmful-sexual-behaviour/
[5] Dating App Use and Mental Health. A Collaborative Review. https://docs.google.com/document/d/1eaL9j2HXrCKKrt_4RLim2i3tAqlhGGRCL_pXfNYqLuE/edit
[6] A two-week gaming abstinence reduces Internet Gaming Disorder and improves mental health: An experimental longitudinal intervention study. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S074756322200156X?via%3Dihub
[7] Benbrook (2016). Trends in glyphosate herbicide use in the United States and globally. Environmental Sciences Europe.
Jayaprakash Aravindakshan, Valérie Paquet, Mary Gregory, Julie Dufresne, Michel Fournier, David J. Marcogliese, Daniel G. Cyr, Consequences of Xenoestrogen Exposure on Male Reproductive Function in Spottail Shiners (Notropis hudsonius), Toxicological Sciences, Volume 78, Issue 1, March 2004, Pages 156–165, https://doi.org/10.1093/toxsci/kfh042
Xenoestrogênios: o que são e riscos à saúde. https://www.ecycle.com.br/xenoestrogenios/
[8] Fantus, Chang, Hehemann, Bennett, Brannigan, Helfand, & Halpern (2020). The association between guideline-based exercise thresholds and low testosterone among men in the United States. Andrology.
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